quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O aluno e suas dificuldades de aprendizagem

Andréia Schmidt


A chegada ao terceiro bimestre e, consequentemente, à reta final do ano letivo, vem acompanhada da corrida pela recuperação das notas ainda não alcançadas. Os alunos que não conseguiram atingir as médias estipuladas pela escola começam a estudar em ritmo mais forte, e os pais, preocupados, muitas vezes tomam medidas para auxiliar os filhos, desde a contratação de aulas particulares até o encaminhamento para avaliações sobre possíveis problemas de aprendizagem. De fato, alguns alunos apresentam dificuldades maiores para aprender em decorrência de problemas funcionais, como a dislexia, por exemplo. Porém, grande parte dos alunos com baixo rendimento escolar pode estar enfrentando problemas de outra ordem. Por vezes, o ponto central da análise não deve ser a aprendizagem do aluno, mas, sim, o tipo de ensino que a escola ou o professor proporcionam. Há casos em que o professor tem dificuldade em planejar formas alternativas de ensino para aqueles alunos que não aprendem determinado conteúdo da forma que o currículo estipula. Por não levar em conta que nem todas as pessoas obrigatoriamente aprendem mais facilmente de uma forma, esse tipo de professor, na sua insistência em utilizar determinado método, acaba por criar na criança uma aversão tão grande à matéria que ela passa a odiá-la pelo resto da vida, o que fatalmente influenciará seu desempenho futuro. A matemática é um caso clássico. Muitos alunos apresentam um desempenho sofrível na matéria não por distúrbios no raciocínio lógico, mas simplesmente porque as suas experiências foram desgastantes a tal ponto que a obrigação de estudar cálculos e fórmulas chega a ser um suplício. Às vezes, a obrigatoriedade de decorar o conteúdo, em vez de compreendê-lo, torna as disciplinas sem sentido e, por isso, o aluno as despreza. Lembro do caso do garoto que tinha notas baixíssimas em História do Brasil e relatava suas dificuldades chorando: "É que essa tal de Conjuração Baiana é o pior abacaxi que existe!" Às vezes, a aprendizagem é afetada por causa de problemas afetivos. Doenças na família, mortes, separações, mudanças de cidade ou de colégio são capazes de alterar a motivação do aluno em relação aos estudos. Em muitos desses casos, o enfrentamento de uma circunstância difícil, como a perda de uma pessoa querida, pode ser muito penoso e causar um grande desgaste emocional na criança ou no adolescente. O problema pode se transformar na preocupação central da vida desse estudante, desviando sua atenção das tarefas escolares: como toda a sua energia está concentrada nos sentimentos de tristeza, raiva ou medo que situações desse tipo podem gerar, surgem a dificuldade de concentração e a desmotivação para os estudos. As dificuldades escolares, nesses casos, só poderão ser superadas quando os aspectos emocionais forem trabalhados. O excesso de cobrança em relação ao desempenho da criança ou do adolescente também pode gerar obstáculos ao bom rendimento escolar. Há pais que extrapolam nas exigências em relação às notas dos filhos ou à sua performance nas atividades extraescolares (como nos esportes, por exemplo), causando crises de ansiedade capazes de desencadear problemas psicológicos como baixa autoestima, nível de auto-exigência muito alto e dificuldade em lidar com frustrações. Frases como "Para mim o perfeito é apenas bom", "Tirar dez na escola não é nada mais que a sua obrigação" ou "O segundo lugar é o primeiro perdedor" podem gerar resultados opostos ao desejado: em vez de incentivar o desempenho, acabam por atrapalhá-lo, pois a ansiedade pode bloquear a atenção ou levar o indivíduo a não conseguir mostrar tudo o que sabe (quem não viveu a situação de ter estudado muito para uma prova e, na hora H, ficar paralisado pelo nervosismo e não conseguir escrever quase nada?). Uma avaliação adequada dos motivos do baixo rendimento escolar deve levar em consideração que a aprendizagem resulta da conjunção de uma série de fatores, que envolvem o aluno e o seu ambiente escolar, familiar e social. Um acompanhamento próximo e afetuoso da vida escolar do filho pode ajudar muito na identificação precoce das dificuldades na aprendizagem e indicar atitudes positivas para superá-las.

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